Hoje, com quase vinte anos de formação médica e, diante do pedido da psicóloga Bianca para escrever uma matéria para este nosso pequeno grande espaço penso: O que escrever? Pensei no meu dia-dia, nos meus pacientes, em todos do Recanto que são também a minha família e então, com tanta coisa legal na cabeça decidi falar sobre algo alegre, à satisfação que tenho em exercer a medicina. Exercer medicina para mim é como eu aprendi lá no início, “a beira do leito” o que nada mais é do que o exame clínico. É aí que eu acho está o verdadeiro prazer em fazer o que faço. E é a perda ou o desprezo de alguns por este momento seja por desconhecimento técnico, falta de tempo ou desinteresse que difere um “médico” de outro “médico” neste momento é que um quê de divindade toma conta de nós e é por isso que nos diferenciamos de outras profissões, como é bom! O que hoje muitas vezes é desprezado é o que há de melhor, o exercício de nossos sentidos. Primeiro, o ouvir muitas vezes simples quando o paciente é explícito e resolutivo, outras vezes temos que organizar seu raciocínio e coordenar seu discurso para que possamos entender o curso real da doença e ajudá-lo, outras vezes traçando um jogo de “gato e rato” pra que possamos desvalorizar o discurso de fachada e mergulhar no seu interior ganhando o seu coração em minhas mãos o que demonstra a sua confiança. Segundo, o ver. Este vem desde quando estão sentados na sala de espera. No relance de olhá-los já temos a sua primeira palavra muda. No seu caminhar até a cadeira a nossa frente diagnósticos já podem ser feitos. Seus olhos, sua boca, seus dentes, sua pele, as mãos, pequenos detalhes como edemas e cicatrizes, são tantas coisas que podemos contar no simples olhar que cada vez mais eu tenho vontade de ler os meus velhos livros de propedêutica para ouvir lendo os ensinamentos dos grandes mestres que pouco tinham para ajudá-los na condução de uma moléstia, tamanha importância tinha o seu olhar. Terceiro, o tato, o palpar o colocar a mão. Não sei como alguns fogem deste momento! Ajudar a subir ou descer da maca, sentir a pele, com a mão sobre o abdome, sentimos o fígado, rins, baço, intestinos, bexiga o aumento de alguns deste, um aneurisma de aorta pulsando, tanto pode nos ajudar... Sentimos no palpar o calor do corpo num momento febril tão importante no diagnóstico que podem em seu início ser mencionado somente como um “mal estar”. Hoje eu brinco de acertar a temperatura nos quadros febris e quase nunca erro! E o melhor, o passar a mão na cabeça deles e dizer: Calma, está tudo bem! Pois mesmo quando não estiver tão bem ao menos uma coisa temos certeza: Temos confiança e isto para nós é sinônimo de segurança. Após esta simbiose o diagnóstico e o tratamento são meras conseqüências. Esta sim é a verdadeira arte de ser médico, sempre coberto pela divindade e recheada de sentidos. Como dizia John Cheever “A arte é o triunfo sobre o caos” A todos o meu carinho. Se o seu tempo é curto então, não faça!
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